A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) volta a ser o centro das atenções, mas desta vez não pelos feitos dentro de campo. Após a conturbada reeleição de Ednaldo Rodrigues e a desistência de Ronaldo Fenômeno na disputa pela presidência, a entidade máxima do futebol brasileiro se vê envolvida em uma série de controvérsias que vão desde cortes drásticos no investimento da arbitragem até gastos suntuosos e decisões regulamentares consideradas absurdas por atletas renomados.
Apesar de ostentar uma receita líquida superior a R$ 1 bilhão, com perspectivas de aumento significativo a partir de 2027 graças a um novo acordo milionário com a Nike, a CBF implementou um corte nas verbas destinadas ao treinamento dos árbitros em 2024. A medida, que relegou a capacitação dos profissionais para o ambiente virtual das videoconferências, parece ter cobrado um preço alto. Os números são alarmantes: enquanto no Campeonato Brasileiro de 2023, 40 árbitros foram afastados por falhas, em 2024 esse número já saltou para 110, evidenciando a possível relação entre a falta de investimento presencial e a qualidade da arbitragem.
Em contrapartida à austeridade imposta à arbitragem, a gestão de Ednaldo Rodrigues tem sido marcada por gastos considerados extravagantes e pouco relacionados com o desenvolvimento do futebol. A lista de despesas questionáveis é extensa: durante a Copa do Mundo de 2022, 49 pessoas sem ligação direta com a CBF foram agraciadas com viagens de luxo ao Catar, incluindo hospedagem em hotéis cinco estrelas, passagens aéreas em primeira classe, ingressos para os jogos e, em um caso extremo, um cartão corporativo com uma generosa quantia diária de US$ 500 para gastos.
Não para por aí. Por nove meses, a CBF arcou com os custos da moradia de Ednaldo Rodrigues em um hotel no Rio de Janeiro, além de estadias para sua família – tudo isso enquanto o presidente recebia um salário mensal de R$ 1 milhão. Outro ponto que gerou indignação foi o aumento substancial no salário dos presidentes de federação, figuras-chave nas eleições da CBF e que se mostraram resistentes ao projeto de Ronaldo. Seus vencimentos saltaram de R$ 50 mil para R$ 215 mil mensais, com direito a um 16º salário.
Apesar da receita bilionária, a CBF acumula 43 protestos em cartório por dívidas que totalizam R$ 2,6 milhões. Até mesmo o imbróglio jurídico que brevemente afastou Ednaldo do cargo, com seu posterior retorno garantido por uma decisão judicial de Gilmar Mendes, teve um custo de R$ 6,5 milhões, pagos com recursos da entidade.
Enquanto os escândalos financeiros vêm à tona, Ednaldo Rodrigues parece concentrar seus esforços na busca por um novo técnico para a Seleção Brasileira, após a saída de Dorival Júnior. A esperança dos torcedores é que, dentro das quatro linhas, o futebol brasileiro consiga superar as decisões controversas que permeiam os bastidores da CBF.
E por falar em decisões duvidosas, a mais recente polêmica envolvendo a CBF diz respeito a uma nova orientação sobre lances considerados "subidas na bola", como a protagonizada por Memphis Depay na final do Campeonato Paulista. Em um documento enviado às federações e clubes, a entidade determinou que tais lances devem ser punidos com tiro livre indireto e cartão amarelo para o jogador. A justificativa da CBF é que a ação "gera impactos negativos ao nosso esporte" e provoca "transtorno no ambiente de jogo, produzindo confrontos generalizados".
A medida não foi bem recebida por jogadores de renome. Neymar Jr. expressou seu descontentamento nas redes sociais, comentando que "o futebol tá ficando cada vez mais chato". O próprio Memphis Depay classificou o anúncio como "bobo", defendendo que o foco deveria ser em regras que realmente melhorem o esporte e no lado comercial do futebol, que beneficia clubes, fãs e jogadores.
Para completar o cenário de turbulência, o Campeonato Brasileiro de 2025, que sequer engrenou, já é palco de intensas discussões sobre a arbitragem, com lances polêmicos marcando diversos jogos da segunda rodada. A combinação de escândalos financeiros, cortes na arbitragem e regras consideradas descabidas levanta sérias questões sobre a gestão e o futuro do futebol brasileiro.
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