Em um momento histórico para a Igreja Católica, a tradicional fumaça branca subiu pela chaminé da Capela Sistina no início da noite italiana de ontem, sinalizando a eleição do novo Papa. Robert Francis Prevost, americano de 69 anos, foi o escolhido pelos cardeais para liderar os mais de 1,4 bilhão de católicos ao redor do mundo. Adotando o nome de Leão XIV, ele se torna o 267º sucessor de Pedro e o primeiro pontífice oriundo dos Estados Unidos, um país até então considerado improvável para ocupar o cargo máximo da Igreja.
A eleição de Prevost encerra o breve período de Sé Vacante, iniciado há 17 dias com a morte do Papa Francisco, vítima de um AVC. A escolha surpreendeu alguns, já que Prevost não figurava entre os favoritos, mas seu perfil conciliador e com trânsito entre as alas conservadora e reformista da Igreja parece ter sido decisivo, garantindo o apoio de mais de dois terços dos cardeais eleitores.
Pouco após o anúncio, Leão XIV surgiu na varanda da Basílica de São Pedro, vestindo a capa vermelha que seu predecessor evitava, e saudou a multidão com a simples, mas significativa frase: “A paz esteja com você”. A notícia de sua eleição repercutiu rapidamente, inclusive nos Estados Unidos, onde o ex-presidente Trump comemorou e expressou o desejo de se encontrar com o novo Papa, que recentemente teceu críticas às políticas do atual governo americano em postagens na rede social X.
Com um perfil discreto e voz mansa, Leão XIV é ligado à Ordem de Santo Agostinho, cuja espiritualidade enfatiza a união e a harmonia. Grande parte de sua trajetória religiosa foi dedicada à América Latina, especialmente ao Peru, onde atuou como missionário, arcebispo e vice-presidente da conferência episcopal. Antes de ser eleito Papa, Prevost ocupava cargos estratégicos no Vaticano: prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Comissão para a América Latina, para os quais foi chamado por Francisco em 2023. Considerado próximo de seu antecessor e defensor dos pobres e imigrantes, Leão XIV, contudo, mantém uma postura contrária a debates de gênero.
Os desafios que se apresentam ao novo pontífice são imensos. À frente de uma Igreja em transição, Leão XIV terá a tarefa de equilibrar a continuidade da linha de maior abertura de Francisco com a necessidade de diálogo com as alas mais conservadoras. Além disso, precisará enfrentar temas espinhosos como a queda no número de padres, os escândalos de abusos sexuais que abalaram a instituição, uma grave crise financeira com déficit estimado em até € 2 bilhões e o papel diplomático do Vaticano em um mundo marcado por guerras. A missão de Leão XIV será conduzir a Igreja em um caminho que harmonize tradição e mudança, um desafio para o qual sua experiência em diferentes continentes e culturas parece tê-lo preparado.
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