Uma megaoperação realizada nos Complexos da Penha e do Alemão, na última terça-feira (28), resultou na apreensão de 91 fuzis que ampliam o retrato do arsenal bélico disponível às facções criminosas cariocas. Entre as armas, estavam fuzis de fabricação dos exércitos da Venezuela, Argentina, Peru e Brasil, evidenciando um comércio internacional e a presença de grupos armados sul-americanos envolvidos com o Comando Vermelho (CV).
O delegado Vinicius Domingos, da Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos, destaca que as insígnias, inscrições e símbolos gravados nos armamentos ajudam a mapear não só o poder de fogo das quadrilhas, mas também suas alianças estaduais e regionais. Marcas como “bonde do Panda” e “baiano” indicam influência direta de criminosos do próprio Complexo do Alemão e do Nordeste, respectivamente, demonstrando que grupos do Nordeste se associam aos morros do Rio, enquanto armas oriundas do Pará e da Bahia circulam nos arsenais locais.
Esses fuzis, majoritariamente calibres 5.56 e 7.62 produzidos na Europa, chegam ao país principalmente via Paraguai. O delegado ressalta a alta letalidade das armas, citando o exemplo do fuzil G3, capaz de disparar até 10 tiros por segundo. Além disso, foi apontado que criminosos utilizam uma estratégia de “pulverizar” o transporte das armas, dividindo peças essenciais do armamento para burlar a fiscalização. Muitas partes são adquiridas legalmente pela internet e adaptadas para uso criminoso.
Em termos de volume, o Rio de Janeiro teve o maior número de apreensões de fuzis desde 2007, com 593 armas retiradas entre janeiro e setembro de 2025 — número que representa cerca de 40% dos 1.471 fuzis recolhidos no Brasil no mesmo período. Em média, de cada cinco fuzis apreendidos nacionalmente, dois são no Rio. Isso reflete o crescimento da violência armada e a sofisticação do crime organizado.
A investigação também revelou a atuação de quadrilhas que fabricam armas para abastecer facções cariocas. Recentemente, a Polícia Federal prendeu integrantes de uma organização que produzia e vendia cerca de 3.500 fuzis por ano, destinados principalmente aos criminosos do Complexo do Alemão e da Rocinha.
Essa operação reforça a complexidade do tráfico internacional de armas e a necessidade de ações integradas para combater o fortalecimento armado do crime organizado que afeta a segurança pública e a vida cotidiana dos cidadãos no Rio de Janeiro.

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